A
ficha biográfica de Joana Luísa da Gama poderia conter apenas os seguintes
dados limitadores do seu percurso de vida: 28-02-1923 a 15-04-2014. No entanto,
sabemos como isso seria pouco, muito pouco, sobretudo quando tal tempo
corresponde a um período de 91 anos, 62 dos quais no estado de viúva, a cuidar
da obra do marido, o poeta Sebastião da Gama, e a participar em várias acções
de solidariedade e de voluntariado após a aposentação do serviço da Segurança
Social, área em que tratou de encaminhar processos de adopção.
Joana
Luísa da Gama foi a nossa associada nº 1 desde que a Associação Cultural
Sebastião da Gama foi criada em 2006. O seu contributo para a expansão da
Associação e sobretudo para a concretização dos seus objectivos foi
inesquecível, tendo estado sempre disponível para participar na divulgação da
obra do poeta azeitonense e para dar a conhecer a sua obra e a sua mensagem.
Connosco colaborou em acções sem conta; connosco visitou escolas, associações,
exposições ligadas a Sebastião da Gama.
Se
a grandeza e a dimensão da obra do poeta da Arrábida são hoje conhecidas, em
parte isso é devido a Joana Luísa da Gama, na sua postura de conservadora do
espólio e de incentivadora do estudo da obra do poeta. Não fosse a sua acção e,
provavelmente, não saberíamos de Sebastião da Gama aquilo que hoje
conhecemos!...
Infelizmente,
o seu estado de saúde passou a ser preocupante de há cerca de dois anos a esta
parte, na sequência de um avc. Progressivamente, o estado de saúde complicou-se
e, na noite de terça-feira, Joana Luísa da Gama partia ao encontro do seu poeta.
Dela
nos ficou a força para se prosseguir na divulgação da obra do poeta. Dela nos
ficou o entusiasmo perante a beleza da Arrábida e perante a estética dos versos
que Sebastião produziu no seu trajecto de vida e da serra. Dela nos ficou o
ensinamento de que a poesia é forte relação de compromisso que faz ressaltar a
beleza do mundo.
No
ano passado, a Associação Cultural Sebastião da Gama promoveu a edição da obra Estala de saudade o coração, reunindo as
crónicas e as memórias de Joana Luísa sobre Azeitão e sobre Sebastião da Gama,
um conjunto memorialístico digno de apreço pelo que revela ao leitor comum. Foi
uma alegria para Joana Luísa o facto de ter podido ver os seus escritos na
forma de livro!
Oxalá
possamos conservar de Joana Luísa aquilo que de bom ela nos soube dar!
Obrigado, Joana Luísa!
[Foto: Joana Luísa, em 6 de Abril de 2013, aquando da apresentação pública do livro Estala de saudade o coração.]
OBS.
1: O funeral realiza-se hoje a partir da Igreja da Misericórdia de Azeitão para
o cemitério de S. Lourenço, com início das cerimónias fúnebres pelas 15h30.
OBS.
2: Ao longo da quarta-feira, várias foram as manifestações de pesar que nos
chegaram. Comovido, Luís Amaro, com a idade de Joana Luísa, dizia ao telefone
que esta era a notícia por que esperava com pena e com abalo. Alguns amigos
resolveram pôr por escrito uma memória:
José
Carlos Marques: “Admirável dedicação de mais de meio século na ausência, na
saudade e na memória diligente. As minhas condolências.”
Alexandrina
Pereira: “Triste notícia, embora esperada.”
Ruy
Ventura: “Envio as minhas condolências a toda a família e aos amigos de Joana
Luísa e de Sebastião. Deus lhe agradecerá quanto fez em toda a sua vida.”
Padre
David Antunes: “A informação deixou-me muito contristado. Gostaria de
apresentar os meus pêsames a alguém da família. Vejo-a como irmã e condoo-me
com todos por este acontecimento, não deixando de pedir ao Senhor por ela. Sou
solidário na saudade.”
Manuela
Cerejeira: “Há amores que são infinitos e que persistem para além
de tudo: a Joana Luísa esteve menos de um ano casada com o Sebastião e mais de
60 viúva (não digo ‘sem ele’, porque acho que ele esteve sempre com
ela). Hoje foi o grande reencontro, por toda a eternidade, como D. Pedro
mandou escrever no túmulo da sua amada Inês, ‘ATÉ AO FIM DO MUNDO’. Deixo um
poema do Sebastião, dedicado à esposa e referente à casa onde foram morar em
Estremoz. Foi esta noite que um anjo veio junto da Joana Luísa, ‘bater-lhe
à porta com a asa’, e a levou, qual oferta pelos 90 anos do poeta, para aquela de
quem ambos poderão dizer ‘a nossa casa é bem a nossa casa’; ‘Nem mais, nem
menos: tudo tal e qual/o sonho desmedido que mantinhas’; ‘Olha como a Senhora
da moldura/sorri (...)’. Saibamos nós honrar a memória deste amor eterno!”
OBS. 3: Ler mais aqui.
OBS. 3: Ler mais aqui.
Comentários
Enviar um comentário