Na
sua edição de Dezembro, a revista Brotéria
publicou o texto “Literatura e evangelização, a propósito de um livro
sobre Sebastião da Gama” (vol. 175, nº 6, pg. 475), assinado por José Eduardo
Franco, contendo comentário à obra Sebastião
da Gama: Milagre de Vida em busca do Eterno, de Alexandre Ferreira dos
Santos (Lisboa: Roma Editora, 2008).
Apesar de
neste blogue já ter sido feita referência a essa obra, é oportuno apresentar-se
uma outra leitura, sobretudo tendo em conta a pluralidade e a actualidade de
Sebastião da Gama. Desse artigo de José Eduardo Franco apresentam-se apenas
alguns excertos, mas a sua leitura na íntegra também pode ser feita aqui.
«(…) Recentemente
foi editado um livro de estudo sério e rigoroso que se inscreve exemplarmente
no caminho desejável da compreensão de um grande poeta cristão e místico, como
foi Sebastião da Gama. Mercê de um trabalho aprofundado de um padre dehoniano,
Alexandre Santos, a literatura une-se à teologia para interdisciplinarmente
compreender o sentido de uma obra poética que pulsa na procura do divino.
Com o
título "Sebastião da Gama: Milagre de Vida em busca do Eterno",
Alexandre F. Santos, professor, pároco e agora também revelando-se um exímio
investigador, oferece-nos uma interpretação profunda daquela que muito bem
caracteriza como sendo a poesia do otimismo e da esperança. (…)
Apesar de
ter vivido a sua juventude atormentada pela doença e ameaçada pela morte
iminente, o poeta místico que passou a residir, por conselho médico, na Serra
da Arrábida, a que dedicará uma obra chamada "Serra-mãe", soube beber
nas fontes profundas da espiritualidade cristã e na tradição mística católica
de que a Arrábida foi lugar de inspiração de grandes místicos, como Frei
Agostinho da Cruz, e não perder o encantamento pela humanidade e pela natureza.
(…)
Marcado
por uma incessante procura de Deus e por uma fé de sabor franciscano que tendia
a ver o dedo divino em todas as coisas, Sebastião distinguiu-se entre os vultos
dominantes da poesia portuguesa contemporânea pela diferença de olhar a vida. A
poesia contemporânea de marca existencialista e vitalista é marcada
predominantemente por um pessimismo atroz, frustrativo, hipercrítico,
depressivo e, por vezes, autodestrutivo, exprimindo mais experiências de
desilusão pelo Homem e pelo mundo do que sentimentos de elevação. (…)
Gama (…) consegue fazer caminho próprio e oferecer uma poesia
assente num otimismo absoluto de fundo cristão. Afirma-se como um poeta capaz
de cantar a grandeza do homem e da natureza, os valores da amizade e do amor
que elevam as relações humanas, o casamento como forma de vida capaz de
felicidade e a fé inquebrantável de uma vida outra para além da terrena que
continua e otimiza em deleite o bem feito nesta vida terrena. (…)
Ao mesmo
tempo, a sua poesia e o seu Diário "pedagógico e social" propõem uma
espécie de manifesto para refundar as relações sociais e transformar a
pedagogia escolar, colocando o aluno no centro e o amor como valor pedagógico
axial. (…)
A atualidade de Sebastião da Gama é flagrante em tempo de crise
como o nosso, tempo de descontentamento social e até de desorientação em termos
educativos. É de grande valia, pois, o estudo e a proposta de revisitação de
Sebastião da Gama feita pelo livro de Alexandre Santos, que contribui com obra
de grande valor para o conhecimento da nossa história cultural e literária.
Além do mais, oferece um bom exemplo de trabalho científico ao serviço da
evangelização da cultura e do investimento na cultura esclarecida e iluminada,
como forma de evangelização.»
Comentários
Enviar um comentário