Muitos dos poemas que Sebastião
da Gama escreveu tiveram dedicatórias para amigos, sobretudo nos manuscritos –
são cerca de quatro dezenas os poemas publicados nos três livros por si
editados (Serra Mãe, 1945; Cabo da boa esperança, 1947; Campo aberto, 1951) que, não tendo
dedicatória nos livros, foram dedicados em manuscrito. A prática era normal em
Sebastião da Gama, que gostava de se apresentar como poeta: partilhar poemas
com os amigos, não só a dádiva por ouvirem o texto acabado de surgir, mas
também a entrega do documento escrito, de que o poeta fazia várias cópias para
ofertar.
Há, no entanto, cerca de trinta
poemas que tiveram destinatário especificado, motivados que foram por essa
prática do livro de curso a encerrar o tempo universitário de uma licenciatura.
Sebastião da Gama escreveu para vários amigos e em várias dessas publicações.
Cerca de três dezenas é o número de poemas nessas circunstâncias que
conseguimos apurar até agora. Dessa produção quase não ficou registo e existem
escassos manuscritos desses mesmos testemunhos de afecto.
São esses textos – “poemas para
os amigos” – que aqui se mostram, tal como foram publicados na época,
originários de seis livros de curso, cinco deles da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa e o outro da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra. Obviamente, aquele que recolheu mais colaboração foi o livro de curso
de Sebastião da Gama, com dezoito poemas.
Dessa produção (que pode não
estar ainda toda reunida, insiste-se), apenas um poema foi seleccionado por
Sebastião da Gama para figurar num dos seus livros: o dedicado a Maria Virgínia
Pereira de Oliveira, sua colega de curso, cujo primeiro verso é “Como as ondas
dos lagos”, incluído no segundo livro, o Cabo
da boa esperança, sob o título de “Desenho”.
Em obra póstuma, mais quatro
destes poemas, do curso de 1946-1950, foram incluídos em livro – são os
dedicados a Irene Lima Mendes, Maria do Sameiro Brum Lopes Prieto, Maria dos
Remédios Cid Castelo-Branco de Carvalho e Maria Sara Pinto da Cruz Malato, que
foram escolhidos por António Manuel Couto Viana, António Osório e Luís Amaro
para o corpo de Estevas (2004).
Duas observações mais são ainda
devidas: a de existir um poema manuscrito de Sebastião da Gama dedicado a José
Gonçalo Chorão de Carvalho no exemplar do livro de curso de 1941-1945 que
pertenceu ao poeta, ainda que esse poema não tenha visto a letra de imprensa,
ignorando-se por isso se não foi inserido por esquecimento ou se foi produzido
após a publicação do livro; finalmente, na página consagrada a Maria Eduarda
Ventura Carreiro, há um longo poema que, num exemplar que Sebastião da Gama
ofereceu aos seus amigos Alberto Fialho e Lourdes Fialho, foi dividido em três
partes pelo próprio poeta, tendo sido aposta a sua assinatura numa dessas
partes, ficando a ideia de que, por lapso tipográfico, terão sido juntos três
poemas num único, com uma única assinatura de autor, sendo que um deles seria
de Sebastião da Gama.
A obra que até hoje se
conseguiu reunir a partir dos livros de curso tem as seguintes dedicatórias: no
Álbum dos Finalistas da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa – Curso de 1940-1944, Maria Margarida Rosa
Niny Teixeira e Miguel Emauz Leite Ribeiro; no Novíssimo Cancioneiro – Curso de 1941-1945 – Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, Matilde Rosa Lopes de Araújo; em Nós os Finalistas da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa Fomos Assim… de 1942 a 1946, Cristina de Sampaio, Maria
Margarida León da Silva, Maria Normanda Guedes Fernandes, Carmen – Manel, Eurico
Lisboa, Júlia do Carmo Coelho dos Reis Lucas Gomes Ferreira, Maria Alice Gyrão
Calheiros Botelho Moniz, Maria da Ascenção Ferreira Custódio de Morais, Maria
Eduarda Ventura Carreiro, Maria Helena Freitas Serra, Maria Leonor Fernandes
Machado Pereira, Maria Virgínia Pereira de Oliveira, Maria Vitória Pimenta
Brisson, Ana Maria Pais Rovisco Andrade Carrêço, Isis Pereira Esteves, Maria
Clementina de Magalhães Pessoa, Francisco António Vidal Abreu Alçada Padez e José
Manuel de Noronha Gamito; em Ao cabo das
tormentas – Faculdade de Letras – Universidade de Lisboa 1945-1949, Maria
de Lourdes Costa Artur; em Finalistas de
Letras – Universidade de Lisboa – Curso de 1946-1950, Irene Lima Mendes, Maria
do Sameiro Brum Lopes Prieto, Maria dos Remédios Cid Castelo-Branco de Carvalho,
Maria Irene Ribeiro Gonçalves da Silva e Maria Sara Pinto da Cruz Malato; em Livro dos Quartanistas de Letras – Coimbra –
1949, Maria Luiza Tavares e Sousa.
Poderíamos ser tentados a ver
estes textos como poemas de circunstância, dada a filosofia e características
dos livros de curso. No entanto, mesmo aí, a poesia de Sebastião da Gama não se
desvia do cunho temático que a enforma: a música, a poesia, a alegria, a
Natureza, a ironia, as referências literárias, o sonho, a infância, a mulher, a
vida.
JRR
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