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Está nos jornais de 1951 (Nos 87 anos de Sebastião da Gama)

Passam hoje 87 anos sobre o dia em que Sebastião da Gama nasceu em Vila Nogueira de Azeitão. Para assinalar a data, a Câmara Municipal de Setúbal e a Associação Cultural Sebastião da Gama promoveram uma série de iniciativas, num programa conjunto já aqui divulgado.
Reproduz-se o texto do roteiro que acompanha a exposição patente no Museu Sebastião da Gama, "Está nos jornais de 1951", mostra da colaboração na imprensa que o Poeta da Arrábida teve nesse ano.

Está nos jornais de 1951
Em 1951, já longe ia o início da década de 1940, quando o jovem Sebastião da Gama, então com 16 anos, viu publicado no jornal montijense Gazeta do Sul o seu poema “Portugal Independente”, que inaugurou uma colaboração de três anos, com cerca de duas dezenas de textos publicados naquele periódico.
A partir daí, todos os anos, Sebastião da Gama teve textos publicados nos periódicos, ainda que com irregularidade acentuada. O ano de maior visibilidade nos títulos da imprensa, com textos seus, foi o de 1951, tempo em que esteve em Estremoz a leccionar e ano de realizações pessoais várias – a publicação de Campo Aberto, em Fevereiro; o encontro com José Régio, em Portalegre, no mesmo mês; o casamento, em Maio; a visita a Teixeira de Pascoais, em Amarante, em Setembro.
Foram oito as publicações que tiveram colaboração de Sebastião da Gama nesse 1951: o Jornal do Barreiro, em que se iniciou em 24 de Agosto do ano anterior, com pequenas crónicas por onde passaram temas diversos, aí se destacando a conversa sobre poesia, história da poesia e alguns retratos de Estremoz (em que a cidade surge com o diminutivo aconchegado de “Estremozinho”); o estremocense Brados do Alentejo, com quatro colaborações ao longo de 1951, periódico que teria a oportunidade de publicar pela primeira vez o último texto que Sebastião da Gama escreveu e que ele ainda terá visto – a crónica “Encarcerar a Asa”, redigida em 25 de Janeiro do ano seguinte e publicada na edição do jornal de 3 de Fevereiro, quatro dias antes do falecimento do poeta; o Jornal de Sintra, em que publicou um poema por ano, ao longo de cinco anos, normalmente no início do ano, aquando do número de aniversário do jornal, com excepção da participação de 1951, que ocorreu em Março, com um poema escrito cerca de duas semanas antes; o Jornal da “Favorita”, associado a uma marca comercial, em que teve duas colaborações, em 1950 e em 1951, ambas na página destinada ao público infantil; o Horizonte, de Évora, em cujo terceiro número Sebastião da Gama acompanhou Luís Amaro e Natércia Freire e em que se estreou um jovem poeta de 14 anos, José Carlos Ary dos Santos; o Distrito de Setúbal, que tinha aparecido recentemente, com o Poeta da Arrábida a publicar no seu terceiro número o célebre e conhecido poema “O Sonho”, dedicado à memória de Francisco Bugalho, poeta e pai de outro poeta do círculo de amizade de Sebastião da Gama, Cristovam Pavia; o Linhas de Elvas, que, num número de Março, publicou quatro poemas, provavelmente a pretexto de edição recente de Campo Aberto; a revista Árvore, bastião importante da poesia portuguesa da década de 50, em que se congregaram poetas da mesma geração, alinhados por razões estéticas estritamente poéticas, em que Sebastião da Gama teve uma colaboração no número inaugural e a quem a revista prestou homenagem no seu segundo número.
A relação de Sebastião da Gama com a imprensa foi constante desde 1940, numa participação marcada sobretudo pela publicação de poemas. Aos vários títulos, o Poeta da Arrábida chegou através de relações de amizade (como foram os casos do Jornal do Barreiro ou do Jornal de Sintra) ou por uma sua persistência de publicar o que ia escrevendo ou de se ligar aos locais por onde passou. Nem todos os textos saídos na imprensa de 1951 foram vistos pelo seu autor em livro; vários poemas surgiram apenas na obra póstuma Pelo Sonho é Que Vamos (1953) e os textos em prosa integraram o título também póstumo O Segredo É Amar (1969).
Curioso é assinalar que o primeiro texto que Sebastião da Gama publicou foi na imprensa – Gazeta do Sul, em 8 de Dezembro de 1940 – assim como foi na imprensa que viu publicado o seu último texto (a que já fiz referência). Pela vida de escritor publicado passaram doze anos, o tempo necessário para que o Poeta da Arrábida legasse uma obra a todos os títulos notável, intensa, em que se associaram a poesia, a epistolografia, a diarística, o ensaio, e a crónica. Uma vida fortemente vivida e intensamente (d)escrita…
[J.R.R. - 09.Abril.2011]

Textos de Sebastião da Gama
na imprensa de 1951
  • “Apontamento sobre a poesia social do século XX”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 34, 11.Jan.1951, pp. 3-4.
  • “A companheira”. Brados do Alentejo. Estremoz: nº 1022, 28.Jan.1951, pg. 3.
  • “Toada do ladrão”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 37, 01.Fev.1951, pg. 3.
  • “Janelas de Estremoz”. Brados do Alentejo. Estremoz: nº 1023, 04.Fev.1951, pg. 11.
  • “Carta de Estremoz”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 38, 08.Fev.1951, pp. 1 e 2.
  • “Carta de Estremoz”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 41, 01.Mar.1951, pg. 8.
  • “Entre quem é!”. Brados do Alentejo. Estremoz: nº 1028, 11.Mar.1951, pg. 3.
  • “Carta de Estremoz”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 43, 15.Mar.1951, pg. 8.
  • “Vida / Diário de Bordo / Hora vermelha / A verdade era bela ”. Linhas de Elvas. Elvas: nº 28, 17.Mar.1951, pg. 6.
  • “Maternidade (à Maria Almira e ao António)”. Jornal de Sintra. Sintra: nº 895, 18.Mar.1951, pg. 1.
  • “Nosso é o mar (ao Manuel de Almeida Lima)”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 46, 05.Abr.1951, pg. 3.
  • “Carta de Estremoz”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 47, 12.Abr.1951, pg. 8.
  • “Carta de Estremoz”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 48, 19.Abr.1951, pg. 3.
  • “Sinal”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 52, 17.Mai.1951, pg. 9 (repetido no nº 66, 23.Agosto.1951).
  • “Bucólica”. Jornal da “Favorita”. Lisboa: nº 9, 01.Jun.1951, pg. 3.
  • “O sábado em Estremoz”. Brados do Alentejo. Estremoz: nº 1047, 22.Jul.1951, pg. 3.
  • “Crepuscular”. Horizonte. Évora: nº 3, Jul-Ago.1951, pg. 19.
  • “Carta de Estremoz”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 63, 02.Ago.1951, pg. 6.
  • “Minha alma abriu-se”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 67, 30.Ago.1951, pg. 1.
  • “O sonho (à memória de Francisco Bugalho)”. O Distrito de Setúbal. Setúbal: nº 3, 17.Set.1951, pg. 8.
  • “Carta de Setembro”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 73, 11.Out.1951, pg. 3.
  • “Largo do Espírito Santo, 2 – 2º”. Árvore. Lisboa: nº 1, [Dezembro.1951], pp. 36-37.

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